27/05/2020

Memória para reverenciar

No dia 27 de maio de 2017, Mãe Beata de Iemanjá fazia sua passagem, aos 86 anos, no Rio de Janeiro. Iyalorixá, escritora, atriz, artesã e ativista, ela foi presidenta de honra de Criola. Uma eterna inspiração, especialmente para esses tempos nos quais lideranças políticas, religiosas, militantes por direitos humanos de todo mundo tentam promover equidade, justiça social e superação de desigualdades. Ao longo de sua vida, sua personalidade foi agregadora e de muita luta. 

Mãe Beata de Iemanjá nasceu Beatriz Moreira Costa, em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Migrou em 1969 para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. A Iyalorixá  esteve à frente de trabalhos relacionados à defesa e preservação do meio ambiente, aos direitos humanos, à educação, saúde, a o enfrentamento de todas as formas de discriminação, especialmente o racismo e o sexismo.

Em 20 de abril de 1985, em Miguel Couto, na cidade de Nova Iguaçu, fundou o Ilê Omiojuarô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi) sob a orientação e bênção de sua Iyalorixá Olga do Alaketu. 

Na década de 1980 também participou de ações assistenciais e pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids. Realizou acolhimento em sua casa e promoveu visitas a hospitais. Mãe Beata teve uma atuação intensa em prol da saúde da população negra partindo da perspectiva do terreiro como um espaço de acolhimento e de saber. Saúde é direito! 

Escreveu e retratou as histórias, as culturas, os anseios e o clamor por justiça do povo negro. Encenou as suas dores e cantou em verso e prosa a nossa luta. Invocou os deuses e deusas da natureza para proteger o povo da diáspora africana, sobretudo, os mais excluídos, como as mulheres, os homossexuais, as crianças e os doentes. 

Foi ao STF com outras iyalorixás para exigir políticas de ação afirmativa nas universidades e para o trabalho. Discutiu com ministros e ministras para ampliar direitos à educação, à saúde, e sobretudo para o enfrentamento da violência contra a mulher e do genocídio da juventude negra. Seu ativismo também abarcou a pauta da sustentabilidade. Participou de Criola, do MNU, do PT, da Rede de Religiões Afro-brasileiras e Saúde, do Viva Rio, do Oku Abó e do INDEC contribuindo com seu olhar sobre direitos humanos. 

Reverenciamos! Pois pela sua tradição, a morte faz parte da vida. Quebra-se o frasco, mas fica a essência.

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