11/12/2018

Encontro Nacional de Mulheres Negras – Sobre potência, acolhimento e luta

Quando participei da Marcha das Mulheres Negras, eu me senti dentro da minha família, ao lado do meu povo. Experimentei novamente essa sensação com o Encontro Nacional  Encontro Nacional de Mulheres Negras. Hoje, seguir nessa história é surpreendente, é fortalecedor, é um aprendizado. Significa entender minha trajetória. Por que há 16 anos, me tornei militante de direitos humanos, por que me tornei militante negra de direitos humanos? Pois nascer negra é uma coisa, torna-se negra é outra. Conviver com mulheres que desde cedo lutam pelo nosso direito de existir, pelo nosso direito ter voz, pelo nosso direito de trabalhar, pelo nosso direito de ter direitos…é muito importante!

Eu cheguei no Encontro, como na Marcha, com a minha demanda de mulheres e de mães negras vítimas da violência do Estado. Somos mães que perderam os seus filhos. A gente sofreu e sofre na pele o racismo do sistema. Nossos filhos foram encarcerados, nossos filhos foram assassinados. Então, escutar de outras mulheres seus relatos (nós éramos quase 15 na mesa que participei), cada uma com sua própria vivência, foi muito forte. Eu ouvi mulheres mais velhas falando sobre repensar e reconstruir suas vidas. Foi acolhedor e gratificante. Nós mulheres negras estamos sempre renascendo, sempre aprendendo umas com as outras. Foi o que Angela Davis compartilhou conosco: mulheres negras movem o mundo!

Representei Criola e todas as mães negras. Nós estamos parindo um outro país, um outro lugar. Um lugar para que nós, o nosso povo, nossos netos, nossos sobrinhos consigam viver. Um mundo sem racismo e sem medo de nossos filhos serem assassinados ou apreendidos a qualquer momento. Esse mundo também é deles. Eu voltei desse Encontro com esperança, porque mesmo com todas as adversidades e cenário de retrocessos no Brasil, nós mulheres negras estaremos de mãos dadas e muito mais fortes.

Mônica Cunha – ativista e representante de Criola

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