26/11/2025
Mulheres negras ocupam Brasília e marcham por reparação e Bem Viver
por Ana Carolina Moraes
CRIOLA e representantes de todo o Brasil estiveram Marcha da Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver; marchantes pediam por justiça e participação na tomada de decisão política
De volta a Brasília (DF), a Marcha das Mulheres Negras reuniu milhares de participantes na Esplanada dos Ministérios na última terça, 25/11. Realizada no marco de 10 anos da primeira edição, a mobilização reivindicou reparação e Bem Viver para a população negra brasileira. CRIOLA, organização de mulheres negras que é uma das fomentadoras do ato desde 2015, esteve presente, trazendo em sua comitiva 48 mulheres parceiras. “A segunda Marcha tem um aspecto político muito importante. Ela vem para marcar a nossa presença como sujeito político nesse cenário”, pontua Lúcia Xavier, Coordenadora Geral da organização.
Desde as 8h30 da manhã, mulheres negras de todas as regiões do Brasil e de 40 países se concentraram no Museu Nacional da República. Tendas foram montadas para abrigar as marchantes da chuva. A infraestrutura contou com pontos de hidratação, de acolhimento e de alimentação, área para pessoas com deficiência, posto médico e ponto de ajuda. “Este é um momento histórico para nós. Para além dos encontros e reencontros, marchamos pela inserção das mulheres negras em lugares de destaque, de poder e de política neste país”, explica a Iyalorixá Roberta de Yemonja, CEO do Instituto Águas do Amanhã e parceira de CRIOLA.
A caminhada começou por volta das 12h, com quatro trios elétricos – um para cada região do país: Centro-Oeste e Sul; Sudeste; Amazônia e Nordeste. “Estar aqui em Brasília, num momento como esse, é uma maneira de dizer que nós não aceitamos mais sermos interditadas em nossos direitos, em nossa dignidade e nossa existência coletiva”, diz Ana Flávia Magalhães, historiadora e professora da Universidade de Brasília (UnB).
O trajeto de 2,5km foi acompanhado de falas políticas, gritos de resistência e da canção “Mete marcha, negona, rumo ao infinito”. Nas ruas, mulheres, jovens, idosas, cadeirantes e crianças carregavam cartazes com mensagens como “Povo negro vivo e livre”, “Reparação já” e “Todas nós pelo fim do feminicídio”.
Além de simbolizar a retomada, a 2ª edição da Marcha das Mulheres Negras foi realizada no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Para Eva Bahia, representante do Dìdé Nós por Nós, organização parceira de CRIOLA, marchar nesta data reforça a importância da justiça e proteção para as mulheres negras.
“Precisamos tomar em nossas mãos o enfrentamento à violência racial e de gênero, porque, conforme pesquisa de Criola, o ciclo da violência do racismo faz com que mulheres negras sejam revitimizadas nos serviços”, afirma Bahia.
Já para Mônica Sacramento, Coordenadora Programática de CRIOLA, o momento marca uma articulação profunda em todo o território nacional. “Trazer tantas mulheres de diferentes lugares do Brasil confere materialidade ao projeto de uma nova possibilidade de civilidade que as mulheres negras almejam”, concluiu.
Além da manifestação, a Marcha das Mulheres Negras também lançou um manifesto por reparação e bem viver nessa terça (25). O documento reconhece a pluralidade feminina e exige a construção de uma agenda orientada à inclusão das mulheres nos espaços de tomada de decisão, elencando 11 proposições para a reparação à população negra. O texto ainda destaca que, sem reparação, não há possibilidade de democracia sólida. Clique aqui para acessar o Manifesto.