12/12/2025
Diagnóstico de saúde expõe as barreiras de acesso e ausência de tratamento digno às mulheres negras da Baixada Fluminense
Lideranças do projeto Saúde das Mulheres Negras apresentam diagnóstico no Seminário Saúde das Mulheres Negras da Baixada, realizado no dia 05/12, na Secretaria Municipal de Saúde
O Dia Mundial da Cobertura Universal em Saúde é celebrado anualmente em 12 de dezembro, uma data instituída pela ONU para promover o acesso universal a serviços de saúde de qualidade e sem barreiras financeiras. No Brasil, as mulheres negras representam 60,9% das usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), mas o racismo institucional ainda viola nossos direitos, transformando o acesso à saúde em uma jornada de exclusão e discriminação.
Na sexta-feira (05/12), o coletivo Filhos nos Braços do Pai e o Instituto Maria Luz, organizações parceiras de Criola no projeto Saúde das Mulheres Negras, apresentaram o “Diagnóstico Territorial da Saúde das Mulheres Negras da Baixada”, documento que analisa as barreiras no acesso à Atenção Primária no município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O estudo foi apresentado no Seminário Saúde das Mulheres Negras da Baixada Fluminense, uma ação estratégica do projeto Saúde das Mulheres Negras, concebida para consolidar o ciclo de incidência política territorial desenvolvido ao longo de 2025. A partir de articulações conduzidas em Nova Iguaçu, Belford Roxo e Queimados, reunimos mulheres negras, lideranças, organizações e gestores públicos em um espaço de diálogo direto, apresentação do diagnóstico e pactuação institucional.
Sobre o diagnóstico
O diagnóstico foi elaborado por Joseane Martins (Coletivo Filhos nos Braços do Pai) e por Ana Lúcia Castro (Instituto Maria Luz), com apoio da assistente de campo Rosânia Nascimento, e teve como foco analisar o atendimento das Clínicas da Família nos bairros Ponto Chic e KM 32, na Baixada Fluminense.
Alguns achados da pesquisa revelam que, no KM 32, 87,5% da população prioritária atendida pela Clínica da Família é mulher, negra e em extrema vulnerabilidade. Destas, 42,5% sentem-se desrespeitadas ou ignoradas ao utilizar a atenção prioritária à saúde. Ao menos 65% das mulheres enfrentam falta ou demora na marcação de exames. No Ponto Chic, cerca de 75% das mulheres negras relataram ter extrema dificuldade para agendar exames e consultas. Outras 55% citam longas filas de espera, o que, segundo a pesquisa, indica uma disfunção estrutural da APS.
Além da exposição deste cenário crítico, o diagnóstico traz uma série de recomendações aos órgãos de saúde competentes, destacando: a instituição de um Plano de Ação Corretivo com prazos definidos para resolver a dificuldade de agendamento de consultas e exames especializados, com foco na reorganização do fluxo de marcação; a implementação de treinamento obrigatório em acolhimento humanizado e letramento antirracista para toda a equipe das Clínicas da Família; e a revisão do protocolo de atendimento para garantir o aconselhamento ativo e obrigatório sobre Planejamento Familiar em todas as consultas ginecológicas/clínicas.
Criola e organizações parceiras estão agindo para mudar o cenário da saúde no Brasil. Juntas, estamos criando estratégias de incidência política e ações que garantam saúde digna para meninas e mulheres negras.
*Criola manifesta sua solidariedade aos amigos e familiares de Lucilene Almeida de Souza, que faleceu no dia 07/12. Lucilene foi representante da Secretaria de Saúde no Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Nova Iguaçu. Sua trajetória foi marcada pela defesa dos direitos das mulheres e pela luta por uma sociedade mais justa.