31/08/2024

Durban ontem e hoje: a incidência internacional de Criola com olhar para raça e gênero

Realizada em 2001, Criola esteve presente na III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas marcando o protagonismo de mulheres negras no combate ao racismo

Mais de 20 anos depois da realização da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em 2001, ainda refletimos sobre a sua importância para a luta antirracista no Brasil e no mundo. Enquanto espaço de discussão, mas também de direcionamento de ações, Durban marca o reconhecimento de que o racismo tem um papel central na estruturação das desigualdades sociais. A Conferência resultou em uma Declaração e um Plano de Ação que expressam o compromisso dos Estados na luta contra a discriminação racial.

É parte do posicionamento de Criola atuar nas mais diversas instâncias políticas em prol do Bem Viver de mulheres negras. Entendemos que a presença nos espaços de discussão e incidência política internacional é uma forma de propagarmos as vozes e ações de mulheres negras que lutam por uma outra forma de sociedade – sem racismo, com Justiça e solidariedade. Assim, a participação de Criola na Conferência de Durban se inicia antes mesmo da data oficial, com a coordenação da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Rumo à III Conferência, juntamente com Geledés – Instituto da Mulher Negra (São Paulo) e Maria Mulher (Rio Grande do Sul).

“Em 2000, começamos a desenhar uma perspectiva de ação política com as organizações já estruturadas de mulheres negras. Aí sentaram-se Geledés, Maria Mulher e Criola e desenharam uma proposta de convocar as organizações de mulheres negras para um debate acerca dessa ação política em relação à III Conferência Mundial de Combate ao Racismo. Fizemos essa convocação, passamos as informações, discutimos – foi no Rio, inclusive –, e o grupo chegou à conclusão de que deveria formar uma articulação para agir para a III Conferência. Nasceu a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Rumo à III Conferência”.

(Lúcia Xavier in Alberti e Pereira, 2007)

Na Conferência, estivemos representadas por Lúcia Xavier (Coordenadora Geral de Criola) e Jurema Werneck (Associada de Criola). Enquanto uma organização de mulheres negras, Criola teve um papel central na construção da agenda e na definição dos temas prioritários, denunciando as várias formas de discriminação as quais as mulheres negras estavam submetidas na América Latina e no Brasil, e cobrando comprometimento do Estado brasileiro na proposição de estratégias para superar o racismo e todas as formas de desigualdade. Denunciamos aos mais de 16 mil participantes de 173 países:

“as múltiplas formas de exclusão social a que as mulheres negras estavam submetidas, em consequência da conjugação perversa do racismo e do sexismo, as quais resultam em uma espécie de asfixia social com desdobramentos negativos sobre todas as dimensões da vida. Esses se manifestam em sequelas emocionais com danos à saúde mental e rebaixamento da autoestima; numa expectativa de vida menor, em cinco anos, em relação às mulheres brancas; num menor índice de nupcialidade; e, sobretudo, no confinamento nas ocupações de menor prestígio e remuneração”.¹

Posteriormente, fizemos a adoção do Programa de Ação de Durban (Durban +20), monitorando os compromissos assumidos pelo Brasil após a Conferência, e integramos a Articulação de Resgate e Reforço da Agenda de Durban, ao lado de Comunidade Bahá’í do Brasil, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Coalizão Negra por Direitos e Instituto Raça e Igualdade.

Vinte anos após a realização da Conferência, nossa incidência internacional segue com o compromisso de instrumentalizar meninas e mulheres negras para a luta política contra o racismo, o sexismo e todas as formas de discriminação, seja denunciando a nossa condição de vulnerabilidade, seja participando ativamente da proposição de novos caminhos para superar essa condição. Dentre nossas últimas participações, destacamos a participação na 52ª Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) nossa atuação histórica na 68ª Comissão Sobre a Situação da Mulher (CSW), e nossa terceira participação Fórum Permanente de Afrodescendentes.

Junte-se a nós na missão de fortalecer os direitos de meninas e mulheres negras cis e trans! Acompanhe nossa atuação em favor da justiça racial, social e reprodutiva e no enfrentamento ao racismo no Brasil e no mundo.

¹Disponível em: https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2021/08/brasil-e-durban-20-anos-depois.pdf>. Acesso em agosto de 2024.

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