01/09/2025
Festival Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver reúne centenas no Rio em preparação para marcha histórica
Evento realizado no Centro de Artes Calouste Gulbenkian foi um marco de organização, debate e celebração da luta das mulheres negras, servindo como aquecimento para a Marcha Nacional que ocorrerá em Brasília em novembro de 2025
O Centro de Artes Calouste Gulbenkian, no Centro do Rio, foi palco de um dia de potência, reflexão e fortalecimento de laços no último sábado, 23 de agosto. O Festival Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, realizado por uma coalizão de organizações incluindo Criola, Conexão G, Fórum Estadual de Mulheres Negras RJ, Instituto Búzios, Instituto Marielle Franco, Mulheres Negras Decidem e Rede de Mulheres Negras, reuniu centenas de pessoas em um evento gratuito que misturou ação política, reflexões e mobilização.
O festival foi, sobretudo, um grande evento preparatório e animador para a Segunda Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que pretende levar um milhão de pessoas a Brasília no dia 25 de novembro de 2025.

Ao longo do dia, as participantes debateram pautas urgentes como enfrentamento à violência racial e de gênero, justiça climática, saúde da população negra e a concepção do Bem Viver – um princípio ancestral que guia a luta por um novo projeto de sociedade. A programação contou com a presença de personalidades como Conceição Evaristo, Luyara Franco, Lúcia Xavier, Juliana Alves, Tia Maria do Jongo, Jaqueline Gomes de Jesus, Ana Paula Oliveira, Helena Theodoro e muitas outras.
Lúcia Xavier, coordenadora geral de Criola, destacou o significado político profundo do evento e da marcha: “Esse Festival nos convoca a pensar a Marcha das Mulheres Negras como parte do processo político que a gente desenvolve ao longo de nossas vidas. Tudo que somos e que vivemos é resultado dessa ação política que levamos séculos para construir, que é baseada em nosso inconformismo com uma existência medíocre, uma existência perversa da desigualdade”, afirmou.
A força da juventude negra, trans e travesti também teve voz central. Zuri Moura, coordenadora de advocacy territorial e liderança da cena ballroom brasileira, deixou claro o poder de organização e incidência desse grupo: “A Juventude trans e travesti está organizada. Nós dialogamos, construímos, fomentamos e incidimos pela permanência e ampliação de pessoas trans e travestis em espaços de poder”, declarou.
A mensagem de que a luta continua necessária e que a presença em espaços de tomada de decisão não é negociável foi unânime. Conceição Evaristo sintetizou o sentimento do evento e ecoou a declaração histórica da Carta de 2015: “Nós marchamos porque ainda há necessidade de marcharmos. A cara da mulher negra precisa estar impregnada na política deste país”.
Além das mesas de debate, o Festival contou com apresentações culturais, muita música e feira de artesanato. Também reforçamos o compromisso prático com o cuidado e a reparação na base, arrecadando absorventes para mulheres em privação de liberdade.

O Festival Mulheres Negras reforçou que a Marcha de 2025 não é apenas um ato simbólico, mas a expressão máxima de uma plataforma viva de mobilização. Como definido na Carta das Mulheres Negras de 2015, da qual o festival é herdeiro direto, o objetivo continua sendo a superação do racismo, do sexismo e de todas as formas de discriminação, propondo uma nova dinâmica de vida e ação política para o país.
Acesse vídeos e fotos do Festival Mulheres Negras em seu perfil oficial do Instagram.
Sobre a Marcha das Mulheres Negras 2025
Articulada por dezenas de organizações do movimento de mulheres negras de todo o país, a Marcha é um marco da resistência histórica e coletiva. Ela exige reparação pelos séculos de escravidão e exclusão e propõe um novo projeto de sociedade fundamentado no Bem Viver – uma filosofia que valoriza a justiça social, a coletividade, a relação harmônica com a natureza e o respeito à diversidade.