13/10/2022

Projeto de Criola apoiado pelo Fundo Elas + amplia oportunidades e percepção de cidadania para mulheres negras trans

Com salto alto, purpurina, bijuterias, maquiagem e figurinos repletos de estilo, um grupo de mulheres trans moradoras do estado do Rio de Janeiro encantou o público de convidadas e convidados que estiveram presentes na formatura do projeto Mulheres Trans e Travestis em Movimento, realizado por Criola desde 2001 com apoio do Fundo Elas+.

O desfile foi realizado dia 15 de agosto no pátio do prédio histórico que hoje abriga o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM), no centro do Rio. Na passarela, as mulheres apresentaram criativas produções desenvolvidas ao longo dos cursos de ecomoda, bijuterias e maquiagem, com média de 22 a 60 horas de duração cada um, oferecidas em parceria com o Grupo Pela Vidda e o Grupo Arco-Íris.

As roupas, construídas a partir das oficinas com o estilista Almir França, incorporam o conceito da moda sustentável, com o reaproveitamento de diversos tipos de tecido. Os acessórios também foram o resultado do curso de bijuterias. Ao final, as formandas apresentaram performances artísticas e trouxeram depoimentos sobre a jornada de conhecimento no campo profissional, da saúde e da cidadania, uma vez que o projeto também incorporou oficinas sobre prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), controle social e acesso à direitos.

“Após o curso, quero me especializar na área de beleza, ser professora e ensinar outras mulheres em situação de vulnerabilidade”, disse Vitória Zaiza, 26 anos.

Negriny Venture, 43 anos, também estava feliz por conseguir vencer adversidades e concluir todos os cursos oferecidos nesta edição do projeto. Mulher negra trans, ela também frequentou a edição anterior da iniciativa de Criola e atua com moda desde os 17 anos.

“É um desafio a gente tentar ser múltipla em relação ao leque de profissões. Resolvi me testar a aprender esse pacote de informações. Procurei me dedicar, porque moda não é fácil.  Sei que as portas podem se abrir em relação à trabalho”, afirmou.

Empregabilidade e direitos

Ao comentar o resultado da iniciativa com 23 participantes formadas, Denise Thyaná França, coordenadora operacional do projeto, lembrou que o público de mulheres trans e travestis enfrenta extrema vulnerabilidade e múltiplas violências, tem baixa escolaridade e restritas oportunidades de formação. Por isso, é fundamental que encontrem apoios para ampliarem seus horizontes de desenvolvimento.

“A gente sabe que o mercado de trabalho é escasso, que as oportunidades e atividades são poucas – tanto nos abrigos públicos como nos territórios -, mas ao darmos uma chance de mostrar a elas uma face do mercado profissional elas se interessam. Muitas alunas do projeto eram inclusive moradoras de rua, mas compareceram, vivenciaram e aprenderam”, explica Denise.

Na mesa sobre empregabilidade que também compôs o evento de conclusão do projeto, Helena Pirageibe, diretora do CEDIM, disse que “voltar à civilidade significa dar oportunidades a essas mulheres”. Maria Eduarda Aguiar, presidente do Grupo Pela Vidda, comentou o mercado de trabalho ainda é muito fechado para pessoas trans e travestis e que todas são capazes quando têm oportunidades.  Thayná Marques, pesquisadora do programa de Saúde Mental da Universidade Federal Fluminense acrescentou ao debate a urgência do cuidado extra com a saúde integral desse grupo.

Mônica Sacramento, coordenadora programática de Criola, lembrou que, ao longo de 30 anos, a organização luta pelo protagonismo e fortalecimento de grupos e coletivos liderados por mulheres negras trans. Projetos como estes, comenta ela, possibilitam ampliar a identificação de parceiros, redes e articulações voltadas para o mesmo objetivo.

Confira aqui o álbum de fotos da formatura do projeto!

Fotos: Adriana Medeiros/Criola
Texto: Júlia Tavares, de Criola

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