06/12/2024
Pelo fim do racismo institucional no Sistema Único de Saúde, Criola reúne lideranças para Jornada Formativa de Saúde das Mulheres Negras
Iniciativa envolve lideranças e organizações que atuam em prol da Saúde das Mulheres Negras em dez municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
A Saúde das Mulheres Negras sempre foi pauta prioritária para Criola, desde a sua fundação. Com papel histórico e ativo na estruturação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, a denúncia de que as iniquidades em saúde direcionadas a nós são atravessadas pelo racismo patriarcal cisheteronormativo é parte indispensável da luta pela transformação do Sistema Único de Saúde.
O Projeto Saúde das Mulheres Negras é mais um capítulo da atuação histórica de Criola em favor da saúde de mulheres negras. Ele surge para incidir sobre o seguinte problema: 1,5 milhões de mulheres negras, cis e trans, de 10 municípios da Região Metropolitana, incluindo a capital do Rio de Janeiro, estão sujeitas a iniquidades e desfechos indesejáveis no sistema de saúde pública; em parte, por não terem suas demandas acolhidas ou consideradas no nível da Atenção Primária. Enquanto a média de cobertura da Atenção Primária no país é de 77,2%, na região em questão esse índice cai para 47,5%, demonstrando assim um ponto de deficiência evidente no sistema.
A partir da identificação deste grave quadro, Criola objetiva instrumentalizar mulheres negras para que elas sejam capazes de agir politicamente em prol de suas demandas e melhorias do sistema de saúde. O projeto “Saúde das Mulheres Negras” dialoga diretamente com lideranças e organizações de mulheres negras cis e trans dos nove municípios em que a cobertura da Atenção Primária está abaixo da média do país. São eles: Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Seropédica, Japeri, Magé e Queimados, além da capital, Rio de Janeiro. A ideia é tornar as lideranças dessas localidades aptas à articulação pública pela redução dos desfechos indesejáveis em saúde, bem como fortalecidas em uma rede que possa atuar para a reversão dos quadros de iniquidades e outras violências e violações de seus direitos.
Linha do tempo das ações do projeto: mapeamento de organizações, parcerias e jornada formativa
A primeira ação iniciada no âmbito do projeto foi o mapeamento de lideranças e organizações inseridas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, já engajadas ou interessadas em atuar no tema da Saúde das Mulheres Negras. Mais de 50 organizações responderam ao mapeamento, indicando a possibilidade de iniciarmos potenciais parcerias em ações e atividades em prol dessa temática.
Logo em seguida, em setembro de 2024, Criola promoveu uma reunião de articulação com as organizações mapeadas. O encontro contou com a apresentação do mapeamento de organizações e lideranças, apresentação do Projeto Saúde das Mulheres Negras e uma dinâmica de pactuação de acordos coletivos com a exposição dos princípios inegociáveis e objetivos comuns para a Saúde das Mulheres Negras.
Em outubro de 2024, foram realizados encontros para firmar a parceria entre Criola e as organizações, com apresentação da metodologia de trabalho e a proposição de um cronograma de atividades. Desse encontro, surgem as articulações para a realização da Jornada Formativa sobre Incidência Política e Saúde das Mulheres Negras, realizada de 25/11 a 29/11. Com a participação de mais de 40 organizações e coletivos da região metropolitana do Rio de Janeiro, a Jornada foi uma verdadeira imersão sobre temas essenciais para o posterior trabalho de incidência: Formação do Estado Brasileiro; Determinação social de saúde – Diagnóstico da situação de Saúde nos municípios engajados no Projeto e na Região Metropolitana I do Rio de Janeiro; Por que é urgente mudar as condições de saúde das mulheres negras cis e trans?, Funcionamento do SUS: o que é preciso mudar com urgência no seu município?, entre outros.
A Jornada também contou com oficinas práticas. Houve discussão por grupos sobre os contextos sociais e políticos que geram forças, oportunidades, fraquezas e ameaças sobre a Organização que cada liderança representava, além das ações a serem trabalhadas. Além de uma oficina para definir e planejar as ações de incidência. Todas as atividades e discussões foram conduzidas por um time de convidadas selecionadas por Criola. Foram elas: Dona Zica, Assistente social, pedagoga, moradora da Vila Aliança (Zona Oeste) e Fundadora do Sindicato de Domésticas do RJ; Cláudia Santamarina, Doutora em Saúde Coletiva (IFF-Fiocruz) e Doutora em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (UFRJ); Jocelene Ignácio, Servidora pública da PCRJ e Diretora do Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado do Rio de Janeiro – SASERJ; Lua Arruzzo, mulher trans de 22 anos, Enfermeira e Filósofa em formação; Luana de Castro, Cirurgiã-dentista, especializada em saúde da família pelo Programa de Residência Multiprofissional de saúde da Família da Escola de Saúde Pública Sergio Arouca; Rita Borret, médica de família e comunidade e doutora em Saúde Pública; Lúcia Xavier, Coordenadora Geral de Criola; Mônica Sacramento, Coordenadora Programática de Criola e Winnie Samanú, Líder de Projetos em Criola.