11/05/2023

Audiência pública on-line quer ouvir mulheres negras sobre a forma como suas imagens são representadas na publicidade

A forma pejorativa como mulheres negras são representadas nos meios de comunicação social, também é uma expressão do racismo. Para debater esse tema, Criola, Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), e o escritório NN Advocacia realizam a Audiência Pública On-line “A imagem de mulheres negras na publicidade e o caso Bombril”, no dia 15 de maio, a partir das 19h.

A atividade quer reunir mulheres negras cis e trans para que elas possam relatar suas experiências e opiniões sobre o uso e associação de suas imagens, em especial, na publicidade, e como isso se reflete em suas vivências. A atividade deve contribuir com a ação civil pública que Criola e MNDH, representados pelo escritório NN Advocacia, movem no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desde 2021, sobre o caso da esponja Krespinha, uma óbvia representação racista reiterada por anos pela Bombril.

A audiência pública acontece no formato on-line e será exclusiva para pessoas que se inscreverem até às 15h do dia 15 de maio. Para participar é necessário acessar este formulário e realizar a inscrição.

Conheça o caso

A Bombril foi denunciada por racismo, por conta da marca de esponja de lã de aço ‘Krespinha’. A ação civil pública de número 0255486-46.2021.8.19.0001 foi protocolada pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e por CRIOLA, no dia 29 de outubro de 2021, e tramita na 47ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).

Em 2020, a empresa divulgou uma peça publicitária do produto, tendo associado a marca ‘Krespinha’ ao cabelo de mulheres negras. No processo, as entidades autoras acusam a Bombril de racismo estrutural e alegam que a propaganda representa um ‘retrocesso ante o desenvolvimento nacional e internacional na luta contra o racismo’.

As duas entidades de defesa dos direitos humanos requerem judicialmente uma retratação pública por parte da fabricante de produtos de limpeza e que ela destine R$ 1 milhão em políticas afirmativas contra o racismo.

“Mulheres negras são representadas negativamente em quase todos os meios de comunicação, e a sua imagem sempre associada a coisas negativas. Essa experiência com a Bombril é uma experiência de uma geração inteira que ouviu uma musiquinha de outra criança, dizendo que seu cabelo parecia bombril de arear panela. Então, essa ideia de ‘bombril’ como cabelo é uma ideia muito pejorativa para as mulheres negras, e cada vez que essa imagem é associada a esse produto, ela se torna ainda mais negativa. É claro, que a gente também conta com a atuação política e de afirmação positiva da imagem, mas é preciso considerar que esses veículos e essas empresas ou outros setores da sociedade acabam tendo mais força na construção de uma imagem sobre a população negra, especialmente sobre as mulheres negras, e expressam racismo e expressam o desrespeito com a pessoa”, declarou a coordenadora geral da CRIOLA, Lúcia Xavier.

Em 2020, o MNDH denunciou a Bombril ao Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), por conta do marketing de ‘teor racista’ acerca do nome da supracitada esponja. A empresa sofreu advertência e teve de retirar a propaganda do ar.

“Vivemos num país racista. Reconhecer o racismo como base da constituição da sociedade brasileira é parte da nossa luta diária, e isso é fundamental. Não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas. Essa ação vem para trazer esse pensar e essa luta. Não podemos passar por cima de posturas que perpetuam e que fortalecem o racismo na sociedade brasileira. O MNDH tem atuação histórica na promoção, proteção e defesa dos direitos humanos. Em 2020, nós ingressamos com uma reclamação contra a empresa no Conar devido a essa peça publicitária. Agora estamos num novo capítulo dessa luta, por meio da via judicial. Acesso à Justiça é lutar por direitos.”, disse a coordenadora nacional do MNDH, Monica Alkmim, também coordenadora executiva da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal.

“Numa sociedade cada vez mais estigmatizada com o racismo estrutural e institucional, é cada vez mais necessária a luta em defesa de populações em situação de vulnerabilidade social. Negros são a maioria na população brasileira, e, apesar disso, sofrem preconceito constante em peças publicitárias, em lojas de roupa, nos supermercados, em abordagens policiais e no dia a dia como um todo. O que buscamos nessa ação civil pública é evitar que o caso fique impune e que a empresa demonstre que não teve má intenção, para que possa realmente se redimir criando políticas afirmativas. Racismo é crime e não pode ser banalizado”, explicou o advogado Carlos Nicodemos, do escritório Nicodemos & Nederstigt Advogados Associados, que representa o MNDH e CRIOLA.

Acompanhe os desdobramentos do caso nas redes sociais de CRIOLA.

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