24/06/2022

Fundo ManaMano, integrado por Criola, fortalece empreendedorismo de mulheres negras

Conheça Regina Xavier e Laremí Emiliano, empreendedoras indicadas por Criola para 4ª turma de formação para aprimorar seus negócios

Além de fazerem parte do grupo de mulheres negras atingidas diretamente pelas crises geradas pela pandemia de Covid-19, Regina Xavier e Laremí Emiliano têm diversas ligações. Ambas acompanham as ações de Criola há muito tempo: Regina, desde o nascimento da organização, e Laremí, desde a infância. Outra ligação é a importância da religiosidade como parte essencial das atividades que cada uma escolheu para empreender.

Filhas da mesma casa de axé, foi Regina quem avisou Laremí de uma oportunidade que poderia impulsionar seu negócio. Deu certo. Ambas foram indicadas por Criola para participar do Fundo ManaMano, iniciativa nascida para fortalecer os negócios de nano e micro empreendedoras de favelas e de periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O projeto é realizado em uma ação conjunta entre UFRJ, Ashoka Brasil, Luta pela paz, Asplande, Dara, Gastromotiva e Criola.

Escolhidas para a quarta turma de empreendedoras, elas devem passar por formação sobre educação financeira, marketing digital, plano de negócios, além de suporte financeiro para aplicar no empreendimento.

Nascido como forma de mitigar os impactos econômicos causados pela Covid-19 e criar ferramentas de geração de renda para famílias em situação de vulnerabilidade, o Fundo ManaMano está dando à Laremí a oportunidade de materializar um plano de negócios para seu espaço de tranças.

Com os aprendizados do Fundo, a jovem pretende aprimorar o negócio iniciado no meio da pandemia. “Estou conseguindo ter uma noção de empreendedorismo que eu não tinha. Comecei do zero, sem noção de quanto ia cobrar e gastar pra trabalhar com isso”, conta.

Assim como a trancista, a costureira Regina Xavier também acredita que o curso vai potencializar seu empreendimento. Ela explica que já está se preparando para encaminhar mudanças, mas quer finalizar o curso para aproveitar todo o conhecimento. “Estou esperando o término pra dar um encaminhamento mais seguro”, explica.

A formação é composta por seis meses de aulas, que se encerram em agosto. Para a costureira, o encontro com as empreendedoras que participam da atividade também é inspirador. “A troca com outras mulheres é muito interessante. Tem ligação com trabalho, mas é como se estivesse “fora”, aprimorando isso”.

Um estudo divulgado pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em parceria com o Sebrae indica que, em 2021, 56,7% dos negócios em funcionamento no país, cerca de 43 milhões eram de empreendedores. Foram as mulheres as responsáveis por 49% deste crescimento.

 

Aprendizagem de casa

Regina tem uma marca de absorventes ecológicos e almofadas térmicas com ervas relaxantes. Ela já trabalhava como costureira, mas quando passou a fazer os itens, criou a Obìnrinbàiyé. O nome, em Iorubá, significa “a mulher germina o mundo”. Participantes do Ile Axé Omiojuaro, tanto Regina como Laremí tiveram os nomes de seus empreendimentos dados por orientação da casa.

Para Regina, a essência de seu trabalho vem da preocupação com o meio ambiente, um dos temas essenciais em sua religião. A ideia de produzir os itens, entretanto, veio a partir do pedido de amigas. Quando parou para estudar os tipos de tecidos e formatos dos absorventes, percebeu a importância do meio ambiente para o produto e o cuidado que isso representava para pessoas que menstruam.

“Comecei a pesquisar e descobrir outras coisas que pudessem ajudar as mulheres”. Foi assim que descobriu as almofadas térmicas, item que pode ajudar com cólicas e relaxamento e que passou a fazer parte dos produtos oferecidos pela Obìnrinbàiyé.

“Além do cuidado com o meio ambiente e com a saúde da mulher, nosso corpo é um altar sagrado. Quanto melhor cuidarmos do corpo, melhor estamos cuidando dos orixás”, explica Regina.

Para Laremi, até 2021, um espaço para tranças era apenas um sonho. Nasceu da dor do luto ao perder o filho recém-nascido e a avó, ainda em 2017. “Este espaço tem um pouco da reconstrução da vida”, explica. Laremí perdeu ambos em um curto espaço de tempo. O desejo de ter um espaço de cuidado foi uma forma de reparar estas perdas.

Em homenagem ao filho, utilizou o nome em seu espaço: Abiodé. Em homenagem à avó, dedicou o cuidado e respeito por toda pessoa que chegava até ela. Neta de Mãe Beata de Iemanjá, Laremí aprendeu de berço o significado dessas atitudes. “O que ela me ensinou são valores que eu carrego dentro do meu espaço”, relata.

Assim como o cuidado com o corpo para Regina, colocar as mãos na cabeça das outras pessoas é encarado com grande responsabilidade por Laremí, uma vez que este é um lugar sagrado. E se sua crença religiosa foi essencial para colocar seu projeto em ação, Laremi decidiu que participantes de religiões de matriz africana serão seu público alvo. “Na verdade eu nem escolhi, foi acontecendo”, conta a trancista.

Dentro de sua casa religiosa, Laremi é Ebomi, alguém que cuida de quem chegou a menos tempo na casa. A tradução da língua iorubá é “minha mais velha”. Para ela, esse papel acabou dando confiança aos membros de terreiro e os estimulou para que eles passassem a procurá-la. “É através da cabeça que a gente dá o início a algo, é onde estão os segredos. Quero passar energia positiva porque vai ficar tudo na cabeça dela. Eu tenho esse cuidado.”

Após a formação das aulas do Fundo ManaMano, as empreendedoras devem receber mentoria e um valor em dinheiro para investir em seus negócios. Os recursos para essas ações vêm através de doações que podem ser feitas no site do fundo. Clique, conheça e colabore você também e permita que mais mulheres possam expandir seus negócios.

Por Ariene Rodrigues, de Criola.

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