08/03/2024

E nós, mulheres negras? 

Em 6 de março de 2024, a dois dias de comemorarmos mais um 8 de março, recebemos a notícia de que o processo do responsável pelo assassinato do jovem Johnatha Oliveira – filho de Ana Paula Oliveira,  assassinado em 2014, com apenas 19 anos – foi considerado pelo júri como homicídio culposo, “sem intenção de matar”. No exato momento da morte de Johnatha, a vida de Ana Paula nunca mais seria a mesma. Viriam a dor, a depressão, a culpa, o luto transformando-se em luta e determinação na busca por justiça após o brutal assassinato de seu filho. 

Logo após conhecer a sentença, o grito seco de Ana Paula rasgou o ar, exigindo justiça e relembrando que a culpa da impunidade está sobre os ombros de uma sociedade que insiste em nos matar. O grito de Ana Paula, constatando mais uma vez a seletividade do sistema de justiça, contém também as vozes de centenas de mães deste país que buscam a mesma justiça; as vozes de todas nós, mulheres negras, seguindo em busca de liberdade e direitos.

Neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres,f Criola quer falar ainda mais alto sobre o quanto nos falta para obter o mínimo – e que, apesar das disparidades, seguimos em luta pelo futuro que acreditamos para meninas e mulheres negras.

Alguns dados traduzem de forma muito objetiva o motivo pelo qual não podemos encarar a mulher como categoria universal, sem evidenciar que somos atravessadas por questões semelhantes, mas que carregam a marca do racismo patriarcal cisheteronormativo. 

O encarceramento feminino aumentou 500% no Brasil em duas décadas e nós, mulheres negras, somos mais da metade desse número: jovens negras sem estudo, e que não cometeram crimes violentos. A razão da mortalidade materna no Brasil aumentou 94% durante a pandemia. Entre nós, mulheres negras, a mortalidade materna é duas vezes maior, ultrapassando 100,38 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. Entre as mulheres pardas, o índice é de 50,36 mortes e 46,56 entre mulheres brancas. As dificuldades financeiras, questão que tem adoecido grande parcela das mulheres, afeta de forma mais severa as mulheres negras, cuja remuneração média é menos da metade da remuneração de um homem branco, e 62% do salário de uma mulher branca. Quando falamos sobre questões ambientais, precisamos demarcar que mulheres e meninas correspondem a 80% da população deslocada por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo. Nós, mulheres negras, indígenas, quilombolas, periféricas, pobres e trans somos os grupos especialmente expostos aos impactos da inação climática, reflexo do racismo ambiental. 

A dor de Ana Paula se soma a muitas outras que nós, mulheres negras, carregamos ao longo da vida. Neste 08 de março, exigimos saúde física e mental, combate ao racismo ambiental, #JustiçaParaJohnatha, com o fim da violência policial contra os jovens negros e as mulheres defensoras de direitos humanos.  

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