23/12/2024

2024: um ano de muitos desafios  

Veja como foi o ano de Criola em termos de ação política, incidência nacional e internacional, produção de conhecimento e comunicação megafônica 

2024 foi um ano de muitos desafios. Enfrentamos essa empreitada ora com tristeza, ora com alegria, mas sobretudo com coragem. Assistimos e participamos, ativamente, de momentos históricos para a luta política das mulheres negras cis e trans em nosso país. Os mandantes do atentado contra Marielle e Anderson foram presos e os assassinos, condenados pelo júri popular pelo crime brutal que cometeram. Em uma sentença histórica, Mães de Acari – movimento que Criola acompanha desde a sua fundação – alcançaram a condenação do Estado brasileiro pelo crime de desaparecimento forçado, em sentença divulgada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.  

Estreitamos vínculos com organizações parceiras e estabelecemos novas parcerias estratégicas tanto para ampliar a nossa capacidade de movimentação em torno das pautas que defendemos, quanto para agir de forma coletiva em prol do nosso maior objetivo: buscar justiça, reparação e Bem Viver para meninas e mulheres negras cis e trans.  

A seguir, você encontra um pouco do que foi o nosso ano de 2024 em termos de ação política, incidência nacional e internacional, produção de conhecimento e comunicação megafônica.   

RACISMO RELIGIOSO  

Em parceria com Ilê Axé Omiojuarô e Ilê Axé Omi Ogun siwajú, lançamos o relatório “Panorama geral do contexto de racismo religioso no Brasil”, com dados e estratégias de combate ao racismo religioso.

No Abril Verde, mês de combate ao racismo religioso, nossas comunicações estiveram voltadas para divulgar conteúdo qualificado sobre o tema, além de trazer lideranças de terreiro para aprofundar o debate.     

Participamos do Seminário Mãe Beata de Iemanjá, na mesa “Movimentos e Instituições de Pesquisa: desafios para a unificação dos dados sobre a violência e a intolerância religiosa”.  

SAÚDE DAS MULHERES NEGRAS 

Promovemos debates e ações em torno da Política de Saúde da População Negra, pensando em caminhos para a sua plena efetivação e ampliação, sempre marcando que meninas e mulheres negras são as mais afetadas por essa negligência. Em março, organizamos a Reunião do Movimento Negro com o Professor Doutor Luís Eduardo Batista, da Assessoria para a Equidade Racial em Saúde do Ministério da Saúde, para compreender quais propostas e ações estiveram em curso em prol da Saúde da População Negra.  

Em parceria com o Fórum Paulista de Saúde da População Negra, Criola realizou a Oficina de Controle Social das Políticas de Saúde. A iniciativa foi direcionada aos usuários e usuárias do SUS, e aos demais atores que agem em defesa do direito à saúde da população negra. 

Foto: Liz Lemos

Para transformar o Sistema Único de Saúde: Criola reuniu lideranças para a Jornada Formativa de Saúde das Mulheres Negras. Iniciativa ousada, o projeto Saúde das Mulheres Negras envolve lideranças e organizações que atuam em prol da Saúde das Mulheres Negras em dez municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e visa incidir sobre o SUS e impactar mais de 1,5 milhões de mulheres negras nestes territórios.  

CURSOS, FORMAÇÕES E PUBLICAÇÕES  

Finalizamos a 18ª edição do Curso de Atualização “A Teoria e as Questões Políticas da Diáspora Negra nas Améfricas”, uma formação acadêmica e intelectual de alto nível para ativistas, estudantes e intelectuais interessades na área de Estudos da Diáspora Africana.  

Lançamos o ebook “Práticas de Comunicação Antirracista no Brasil”, que conta com 17 artigos sobre iniciativas antirracistas no campo da comunicação e da educação.  

A partir da parceria com o Fundo ManaMano, indicamos mulheres negras da região metropolitana do Rio de Janeiro para participarem da 8ª edição da formação para afroempreendedores.  

Divulgamos o relatório “Impacto da Violência Produzida pelas Polícias Brasileiras contra as Mulheres Negras Cis e Trans”, que conta com recomendações ao Mecanismo Especializado para Promover a Justiça Racial e a Igualdade na Aplicação da Lei (EMLER).  

CIRDI: lançamos a publicação “Contribuições para a Defesa dos Direitos da População Negra: Conhecendo a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e formas Correlatas de Intolerância”, com o intuito de ampliar o conhecimento e o debate acerca dos usos dessa Convenção para combater o racismo e formas correlatas de discriminação.  

CRISE CLIMÁTICA E RACISMO AMBIENTAL 

Fomentamos debate público sobre a crise climática, eixo que ganhará ainda mais força e destaque dentro das ações estratégicas de Criola previstas para 2025, em especial pensando a COP30, que será realizada em novembro, no Pará.  

Abordamos o tema do Racismo Ambiental em meio às chuvas que afetaram mais de 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, no início de 2024, em especial na região da baixada fluminense. Junto a outras organizações, defendemos a criação do Auxílio Calamidade Climática: uma política de amparo às vítimas de desastres climáticos. 

Realizamos duas edições do minicurso “Justiça Climática e Justiça Reprodutiva: o que o futuro reserva às mulheres negras?”, e reforçamos que debater e agir pelo presente e futuro do clima é urgente e vital para meninas e mulheres negras. 

Chuvas no Rio Grande do Sul: questionamos as escolhas políticas que colocam a manutenção de relações financeiras e de poder acima dos eventos climáticos extremos, e apoiamos organizações negras que estiveram na linha de frente dos desastres acontecidos em maio de 2024 no estado.  

Lançamos a “Agenda das Mulheres Negras Construindo o Futuro com Justiça Climática”, documento que reafirma o papel de protagonismo das mulheres negras que estão construindo e articulando estratégias para conter os efeitos da crise climática.  

A Série Mulheres de Axé e COP reuniu lideranças de terreiro para pensar como a crise climática afeta o exercício das tradições afro-brasileiras, a importância de reconhecer essas tradições na luta por justiça climática e como podemos reivindicar a presença das mulheres de terreiro nos espaços de decisão como a COP.  

MULHERES NEGRAS CIS E TRANS  

Celebramos o Dia Nacional da Visibilidade Trans apresentando 4 organizações que tem construído conosco dignidade e promoção da cidadania para pessoas trans, uma pauta crucial para que sigamos não somente denunciando os inúmeros casos de transfobia que acometem mulheres negras trans, como o que sofreu Ariela Nascimento, mas também cobrando maior compromisso das autoridades com essa pauta.  

No Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, Michele Seixas, Diretora Geral do Instituto Brasileiro de Lésbicas, conversou com a gente sobre como o racismo patriarcal cisheteronormativo ainda impede mulheres lésbicas de acessar direitos fundamentais.  

JUSTIÇA SEXUAL E REPRODUTIVA  

Onda verde no carnaval 2024: Criola, Nem Presa Nem Morta e a Frente Rio contra a Criminalização das Mulheres pela Legalização do Aborto distribuíram materiais e conscientizaram foliões sobre o direito ao aborto legal.  

Denúncias: questionamos publicamente a decisão do Ministério da Saúde de Suspender a Nota Técnica nº2/2024-SAPS/SAES/MS e exigimos explicações para mais um caso de racismo obstétrico: neste, uma mulher negra deu à luz no chão de uma maternidade no Rio de Janeiro.  

Encontro “Perspectivas 2024 – Democracia, Aborto, Direitos Sexuais e Reprodutivos”, organizado por Criola, reuniu mais de 50 lideranças para cocriar estratégias na luta por aborto legal, seguro e gratuito para meninas e mulheres negras. 

Ocupa 28 de Setembro: Criola e organizações parceiras organizaram o evento para marcar o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto. Ocupamos a Praça XV (RJ) para dialogar com o público, promover trocas e defender o direito ao aborto no Brasil.  

Foto: Flávia Viana

PELO FIM DA VIOLÊNCIA RACIAL E DE GÊNERO 

Mapeamos organizações em todo o país, realizamos um encontro nacional com representantes de diferentes regiões e territórios e criamos estratégias de enfrentamento a partir de nossas perspectivas. 

Lançamos o “Sumário Executivo Números da Violência Racial e de Gênero contra Meninas e Mulheres Negras Cis e Trans no Brasil”. Divulgamos o painel de recursos Empoderando Mulheres Negras para o Enfrentamento à Violência Racial e de Gênero, com conteúdos e materiais para mobilizar na luta contra as violências.  

COMUNICAÇÃO MEGAFÔNICA 

Para ampliar as vozes e o alcance das mulheres negras na luta por direitos, criamos mais meios de ouvi-las e promovermos trocas. Agora temos um Tiktok e um canal no Whatsapp.  

A partir de ação conjunta com a Coalização para a Dignidade Menstrual, iluminamos o Congresso Nacional de Vermelho para lembrar que ainda há muito o que fazer para se garantir a menstruação com dignidade. 

Julho das Pretas: série Negras na História trouxe vídeos com histórias de mulheres negras contadas por mulheres negras, em mais uma iniciativa de Criola no contexto da parceria com a Fundação Wikimedia, a partir do Projeto de Aprimoramento nas Habilidades no Uso de Novas Tecnologias para a Construção de Meios para a Equidade Racial.  

Com o Wiki Movimento Brasil, promovemos uma Editatona que resultou na produção de mais de 80 verbetes de mulheres negras, uma empreitada para combater a lacuna de gênero e raça na Wikipédia. Além deles, lançamos uma página GLAM: um espaço exclusivo pata registrar a história e o protagonismo de mulheres negras de todas as partes do Brasil.  

Crescer com Cuidado: Mobilizar por mais Creches: um chamado urgente para defender o direito à creche para crianças negras na primeira infância e suas mães, cuidadoras e famílias.  

INCIDÊNCIA POLÍTICA NACIONAL E INTERNACIONAL 

Refletimos sobre nossa incidência internacional com olhar para gênero e raça, rememorando nossa participação estratégica na Conferência de Durban, realizada em 2001. 

Articularemos estratégias de advocacy para o período de 2024-2025, com foco no acompanhamento e monitoramento dos compromissos do Fórum Geração Igualdade (GEF), empreitada da qual Criola e mais três organizações mulheres negras fazem parte no Brasil.  

Na 68ª Comissão sobre a Situação das Mulheres, o encontro mais importante da ONU para debater o futuro das mulheres, Criola, juntamente com organizações parceiras, participou das movimentações que levaram ao aceite histórico do parágrafo 35b, 23 anos após Durban, que reconhece a contribuição significativa de mulheres e meninas de ascendência africana para o desenvolvimento das sociedades.  

Pela terceira vez, marcamos presença em mais uma sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes, destacando a urgência de ações de enfrentamento ao racismo patriarcal cisheteronormativo para combater as crescentes violações sofridas por meninas e mulheres negras cis e trans. 

Construindo Futuros sem Racismo: nesta edição, recebemos a ativista e escritora nigeriana Amina Mama e ouvimos suas experientes transnacionais para pensar novos processos políticos que rompam com o racismo patriarcal cisheteronormativo.  

Grupo Articulador Enfrentamento ao Racismo desde a Primeira Infância, composto por Criola e outras organizações, mobilizaram cerca de 26 gabinetes de parlamentares do Congresso Nacional e da Câmara Legislativa do Distrito Federal, buscando apoio para políticas públicas antirracistas focadas no combate ao racismo desde a primeira infância.  

Marcamos presença nas Reuniões de advocacy com o Congresso Norte-Americano para discutir o avanço de agendas racistas e xenofóbicas na América Latina e no Caribe.  

G20: Criola e Raça e Igualdade organizaram o Painel “Diálogos entre Mudanças Climáticas e Racismo Religioso”, como atividade do G20, que aconteceu no Rio de Janeiro de 14 a 19 de novembro. 

Promovido pelo Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), o intercâmbio entre organizações do Sul Global surgiu para impulsionar articulações, solidariedade internacional entre as defensoras e defensores de direitos humanos dessas regiões, promover trocas de experiência e estratégias entre organizações que atuam na proteção de defensores nesses territórios.   

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